quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O DIA DE FINADOS

19  Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente.
20  Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele;
21  e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras.
22  Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado.
23  No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio.
24  Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.
25  Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos.
26  E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós.
27  Então, replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna,
28  porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento.
29  Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.
30  Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.
31  Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos (Lc 16.19-31).
Hoje é o dia em que celebramos àqueles que partiram. Neste dia, quero escrever sobre a parábola do homem rico e do mendigo Lázaro que Jesus contou. Ela é uma estória fictícia, mas Jesus a contou para transmitir grandes verdades. Jesus é o Mestre dos mestres, e Ele sabia muito bem como transmitir um ensino de forma impactante. Quero deixar bem claro que não sou contra homenagear àqueles que partiram e nem esta parábola condena a isso, mas sou a favor do que ela nos ensina quanto à questão dos mortos. Abraão, quando Sarah, sua mulher, faleceu, adquiriu um terreno e lá fez o túmulo de sua esposa, lugar que foi honrado pela sua descendência, mas nada mais, além disso, está registrado quanto a isso, um fato histórico que demonstra a consciência que os patriarcas tinham do que está escrito em Hebreus: Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hb 9.27). Mas o mesmo não se pode dizer do livro apócrifo de Macabeus em que relata a sua satisfação de orar pelos mortos. Pelo menos o livro relata a satisfação de Macabeus em realizar tal coisa, e não de Deus, que condena tal cerimônia.
Quero destacar duas coisas importantes na parábola de Jesus. Primeiro é o fato de vermos, na parábola, o homem rico clamando a Deus. Creio que em nenhum momento de sua vida terrena este homem preocupou-se em clamar a Deus. Agora, depois de sua morte, quando não pode mais acontecer a reversão de sua situação, ele está clamando, mas é tarde demais, porque ele não vive mais na Terra, ele não faz mais parte do mundo dos vivos, ele já esta sentenciado ao seu destino final e eterno, o destino que ele escolheu aqui na Terra, o destino fruto de suas decisões e de suas atitudes tomadas enquanto vivo! Ele não está lá porque era rico, mas está lá porque, quando vivo desprezou uma vida de piedade nas mãos de Deus. Independentemente de ser verdade ou não este desprezo na vida deste homem em sua estória, este fato é a realidade de muitas pessoas na vida real, porque a quantos hoje que não acham o mínimo de tempo para uma oração a Deus, uma única atitude de gratidão a Deus, um único momento de quebrantamento diante de Deus, não reserva um único dia para adorar ao Deus Criador de todas as coisas. Tais pessoas estão cometendo o mesmo erro deste homem rico, e não é por causa de riqueza porque há muitos pobres entre eles. Essas pessoas se esquecem, da mesma forma que aquele homem rico se esqueceu, de que é aqui na Terra que se decide onde passaremos a eternidade: No Céu ou no inferno, porque somente na vida terrestre que podemos nos converter, de forma que a morte estabelece a nossa condição definitiva: Ou o Céu para sempre ou o inferno para sempre! Se este destino for o Céu não haverá mais necessidade de clamar porque lá no Céu vemos as pessoas praticarem um único exercício de devoção: O louvor. E caso seja o inferno clamar é totalmente desnecessário, porque Deus não ouvirá mais nenhum clamor; um grande abismo existe entre o Céu e o inferno! Não há ligação entre eles!
A segunda coisa é o paradoxo existente nesta parábola: Aqui na Terra vemos os vivos clamando pelos mortos, pensando que ainda pode haver oportunidade de salvação para eles, enquanto que no inferno vemos os mortos clamando para que algum morto volte para alertar aos vivos a ouvirem e atenderem a pregação do Evangelho. Aqui vemos os vivos seguirem tradições, mesmo que estas as levem ao inferno, enquanto que no inferno vemos os mortos não se importarem com elas, pois por causa delas estão lá e não querem essa realidade para nenhum de seus parentes. Era justamente por isso que o homem rico clamava para alguém dos mortos voltar até seus parentes, pois dizia: A fim de não virem também para este lugar de tormento (Lc 16.28). Ele estava pensando em seu exemplo, que nunca deu ouvidos a um vivo quando falava da eternidade, mas se algum morto tivesse voltado, pensa ele que seria diferente e teria ouvido, ele acha que o mesmo aconteceria com seus parentes que ainda tinham chances, enquanto que a dele cessou. O problema é que salvação é uma questão de fé, não se ganha pela razão, e fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem (Hb 11.1).
Nenhum morto voltará a Terra para alertar algum ser vivo, pois aprouve a Deus dar ao homem apenas uma oportunidade de vida e depois dela vem o acerto de contas. Também aprouve a Deus a salvação ser adquirida durante esta única vida terrena, e isso através da pregação do Evangelho. No além não haverá a pregação do Evangelho, ouça-o enquanto ainda pode fazê-lo! E quanto ao dia de hoje, gostei muito de uma poesia de Thiago Miranda, intitulada Dois de novembro, que diz:
Hoje é o dia da saudade
De pessoas que a gente
Queria tanto abraçar
Pra aquecer o coração.
Parece nem ser verdade,
Mas a dor, de tão pungente,
Nos faz reacreditar
E penar de solidão.
Portanto, mais que os que foram
Celebre quem tens ao lado
Se junte pra recordar.
No amanhã nunca se sabe
Se um deles vai ser lembrado
Ou se de ti vão se lembrar.
Ela reflete muito bem no verdadeiro significado que deve ter o dia de hoje. Pense sobre isso com muita seriedade; não seja negligente e não menospreze a eternidade de sua alma! Que Deus te abençoe! Amém
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com


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