segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

O SOFRIMENTO E A NOSTALGIA


Qual relação pode haver entre a dor e a nostalgia? Nostalgia é um termo que descreve uma sensação de saudade idealizada (que às vezes pode ser irreal), por momentos vividos no passado associada a um desejo sentimental de regresso, impulsionado por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais. Temos uma tendência muito forte de voltar ao passado, principalmente nos momentos de tribulação. E por causa disso muitas pessoas estão presas às lembranças do passado de forma que não conseguem viver o presente. São pessoas que mesmo estando no meio de uma multidão sentem-se isoladas, solitárias, tão diferentes que se sentem estranhas ao meio social em que vivem. São pessoas que vivem tanto no passado que perderam a identidade, que não conseguem mais estabelecer ligação com seu próximo. Estas pessoas sentem que ninguém, nem mesmo Deus, pode entender ou avaliar a intensidade de sua dor e por causa disso se isolam, mas este isolamento só piora a situação porque ninguém suporta sofrer sozinho. E na hora da dor, por mais que venhamos a desejar estar só, interagir ajuda a superar a dor.
São muitas as causas que podem nos traumatizar e nos tornar um saudosista e nos deixar dependentes do passado. Uma delas pode ser a perda de um ente querido, de uma pessoa que amamos de forma sem igual, principalmente se ocorrer de forma trágica ou prematura. Pode ser a perda da mãe ou do pai, de um filho ou de uma filha, de um irmão ou de uma irmã, do marido ou da esposa e não há como evitar os questionamentos, os conflitos interiores a partir de então. Muitos porquês vão tinir em nossa mente como um sino. Constantemente seremos pegos pensando: Como Deus, que tanto amo, pode permitir que algo tão terrível acontecesse? O sentimento do nosso coração é que não vamos conseguir sobreviver a esta dor. Sei que muitas perdas são insubstituíveis, mas caso não cuidemos adequadamente desta dor ela pode criar um abismo entre nós e os outros e até mesmo entre nós e Deus.
Mais uma vez (este é o terceiro texto) nos encontramos diante de um dilema em que a atitude que tomarmos fará toda diferença. Se sofrermos sozinhos e recusarmos ajuda corremos o risco de terminar nossos dias isolados e largados em um saudosismo que nada mais fará do que nos fazer viver no passado e perder tanto o presente quanto o futuro. Mas se buscarmos e aceitarmos ajuda, poderemos até viver em conflito por um período de tempo, contudo logo encontraremos o caminho novamente e passamos a seguir em frente, mesmo que machucados, pois logo perceberemos que não estamos sozinhos, mesmo que assim o pareça. Sei que não é fácil, e não estou dizendo que se você lidar corretamente com a dor ela terminará e vai embora, mas o que digo é que a melhor opção é tomar uma atitude que nos conduza a superação, porque é muito mais fácil fugir da realidade e viver no mundo dos sonhos (como que se lá a dor não existisse), assim como é muito melhor viver nas lembranças do passado do que encarar os desafios do futuro.
O sofrimento pode acabar com as nossas esperanças e nos afastar das pessoas. Mas na hora da dor a presença dos amigos é o melhor remédio, mesmo que suas palavras pareçam inúteis. Afinal, Deus nos criou com a capacidade de nos relacionarmos com os outros. E quando nos sentimos desesperadamente sós, interagir faz muito bem ao coração machucado. Podemos até achar que não queremos a companhia de alguém, mas escolhermos estar com os amigos é a melhor opção de superararmos a dor. Se agirmos assim não vamos ficar presos ao passado, mas vamos caminhar para o lado certo da vida: Para frente! Não fique aprisionado entre o passado e o futuro, como se o aqui e o agora não existissem. Seus amigos estão aí! Eles podem não compreender a intensidade da dor que estás sentindo, mas eles querem estar ao seu lado!
Quando sentirmos profundamente que ninguém pode compreender o tamanho do nosso sofrimento, quando sentirmos que os comentários superficiais e consoladores mais parecem um insulto do que um conforto, lembremos que Jesus também conheceu a dor da perda de um ente querido e quando isso aconteceu a Bíblia diz que Jesus chorou (Jo 11.35). Ele chorou porque amava a Lázaro e a morte de seu amigo irmão abalou seu íntimo e a dor da morte, da perda o fez fazer o que é mais natural nesta hora: Chorar! E chorar não é errado, mas a Bíblia diz: Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã (Sl 30.5). O choro não pode ser eterno de forma que se viveres chorando viverás trancado dentro de si, em meio a sombras que insistem em pairar sobre sua cabeça e, então, não mais viverás, mas apenas existirás. E quanto ao passado olhe para ele com prudência, porque o passado pode ser fonte de bem-estar emocional, mas também de depressão. Busque a Deus e diga como Davi: SENHOR, meu Deus, clamei a ti por socorro, e tu me saraste (Sl 30.2). E caso tenha sofrido a dor da perda de um ente querido, a Bíblia diz: Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos (Sl 116.15). Estas palavras não trará seu ente de volta, mas tem o poder de aliviar a sua dor e confortar seu coração. Que Deus assim te abençoe! Amém!
Luiz Lobianco

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